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ALERTA SAÚDE...Anorexia nervosa!
Estima-se que a prevalência de Anorexia ronde os 0,5% a 1%, é mais frequente em mulheres do que em homens (9 a 10 para 1). A idade de início mais frequente é a da adolescência, entre os 13 e os 18 anos, mas pode surgir antes da adolescência ou na vida adulta.
A Anorexia Nervosa apesar de talvez mais abordada recentemente, até com campanhas que a procuram evitar, ou devido a casos extremos que são agora mediatizados, não é uma doença recente nem tampouco surgiu neste últimos séculos.
A psiquiatra Raquel Pruxa fala-nos desta doença que tanto choca a sociedade tanto pelo seu caráter bizarro, como pelo estado extremo a que os doentes chegam, e estes são habitualmente adolescentes…
A psiquiatra esclarece que “as Perturbações do Comportamento Alimentar não são doenças que tenham surgido nos séculos XX ou XXI, nem doenças da moda. Existem muitas descrições de comportamentos doentios, feitas ao longo da História da Humanidade e que, face ao conhecimento científico que hoje temos, podem ser consideradas Doenças do Comportamento Alimentar.
As Doenças do Comportamento Alimentar constituem uma entidade nosológica, cuja frequência não aumentou nem diminuiu, porque se passou a falar mais dela”.
Em termos de caracterização, a Anorexia Nervosa define-se por recusa em manter o peso corporal adequado, medo intenso de ganhar peso ou engordar, distorção da imagem corporal, negação do baixo peso apresentado e, na mulher, ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais consecutivos.
Como nos disse a psiquiatra, “a maior parte dos casos surge numa adolescente muito jovem que tenha habituado os seus familiares a um comportamento exemplar e que, sem que muitas vezes a família se aperceba, inicia um comportamento alimentar autorrestritivo, chegando o organismo a um grave estado de subnutrição. Mesmo com o peso corporal mais baixo do que o mínimo necessário, considera-se gorda e tem medo de engordar. Vive com a convicção que tudo o que comer irá engordá-la. Assim, resiste fortemente à fome e deixa de se alimentar. Nega ter fome, quando é óbvio que a tem”.
Os sintomas irrompem. A sua menstruação cessa, a frequência dos seus batimentos cardíacos diminui, a sua pele torna-se seca e adquire lanugo (pêlo fino que protege o corpo para evitar perdas de calor), a sua massa muscular diminui consideravelmente. O cabelo e as unhas enfraquecem, partindo-se com facilidade. Há alterações do sono e redução do interesse sexual.
Esta adolescente pensa incessantemente em comida e na quantidade de calorias que cada alimento tem. Cogita sobre o seu corpo e imagem e evita tudo o que pensa que a pode fazer engordar. No momento das refeições, isola-se, põe a comida fora ou esconde-a debaixo do prato ou da mesa, habitualmente em guardanapos ou nos bolsos. Torna-se criativa para encontrar estratégias para não comer. Não tolera bem os acontecimentos não planeados antecipadamente que impliquem comida, bem como se irrita facilmente se a hora das refeições cambiar para além do que é hábito.
Mantém-se hiperativa, se puder ficar de pé não se senta, se se puder sentar não se deita, procurando prolongar sempre o gasto de energia física. Ajuda muitas vezes os seus familiares e, como frequentemente gosta de cozinhar, cozinha para todos.
Não estão identificados propriamente grupos de risco para Anorexia Nervosa, mas sim fatores predisponentes. Condições prévias a esta doença podem relacionar-se com genética. “Na Anorexia Nervosa existem dados suficientes para se considerar que os genes são relevantes. Com um certo grau de determinação genética, podemos também considerar como fatores importantes a constituição biológica e a personalidade”, mencionou a médica.
“É muito frequente que as pessoas com Anorexia Nervosa sejam bons alunos e perfecionistas, procuram fazer tudo muito bem e lutam desesperadamente por melhorar sempre, são reconhecidas como bem comportadas, muito preocupadas e dedicadas aos outros. Esforçam-se por exercer um controlo persistente sobre os objetivos a que se propõem (como o apetite) e vão obtendo sensações de vitória”, realçou a Dra. Raquel Pruxa.
Estas características não são universais, mas desde sempre que se manifestam num grande número de doentes.
Os fatores que despoletam esta patologia são individuais e no momento atuam como desencadeadores em pessoas já suscetíveis. “As pessoas iniciam uma dieta com o objetivo de diminuir o seu peso corporal e entretanto instala-se a doença. Um sentimento de que se é desconsiderado em sociedade ou um comentário pejorativo sobre o corpo, ou que é sentido como tal, pode precipitar uma Anorexia Nervosa. À semelhança de outras doenças, como por exemplo a diabetes que pode descompensar no seguimento de uma zanga entre jovens amigos, um sofrimento emocional pode ter consequências diferentes consoante as condições prévias de cada um”.
A ocorrência mais frequente destas doenças na adolescência alerta para a possibilidade de um dos fatores precipitantes ser as transformações no corpo decorrentes das alterações hormonais, as quais são inevitáveis e desencadeiam-se para além do controlo do adolescente. Esta evolução corporal na rapariga desenvolve-se de um modo que é não o mais desejável para ela, visto que o corpo se torna arredondado.
A psiquiatra lembra também que “nesta fase da vida surgem desejos, mas também dúvidas e inseguranças sobre o futuro, situações que são vividas com dificuldade de serem controladas, o que em alguns jovens propicia a procura de algo que possam controlar, tentando afirmar-se através das suas particularidades e gostos próprios desta fase da vida e que são diferentes dos adultos. Alguns, se têm vulnerabilidade para Doenças do Comportamento Alimentar, procuram exercer este controlo usando a restrição alimentar”.
O desejo de ser magro motiva a busca por formas de diminuir o peso, surgindo de imediato como solução mais fácil as dietas, como explicou a Dra. Raquel Pruxa, com caráter “pseudo-científico”, propostas com restrições e exclusão de alguns alimentos, o que desrespeita a manutenção da saúde.
“Pelo seu carácter generalista, quer os fatores predisponentes quer os precipitantes, só são conhecidos após a doença já estar instalada e por isso o nosso investimento pode ser bastante mais eficaz se nos dedicarmos, a partir do que conhecemos, a reduzir ou anular os fatores de manutenção da doença”, ressalvou a psiquiatra.
Como noutras doenças, a Anorexia Nervosa evolui de diferentes modos, dependendo de fatores individuais, no entanto podemos considerar que são fatores de manutenção:
As alterações hormonais do hipotálamo com diminuição da regulação da temperatura e disfunção dos centros da fome e da saciedade;
Os comportamentos de restrição alimentar;
A manutenção de comportamentos compensatórios (como os vómitos, o uso de laxantes, o exercício físico em demasia…);
A extrema sensibilidade do doente perante toda a informação relacionada com o aspecto físico;
A insatisfação com o corpo e a preocupação excessiva com o peso;
A afirmação pessoal usando o seu comportamento alimentar;
A pressão sobretudo sentida do exterior (os outros) acerca do controlo do seu comportamento alimentar;
A tendência para ser muito dedicado, para se empenhar e fazer tudo melhor e mais perfeito;
Não parar de gastar energias nos doentes com hiperatividade;
As alterações do humor;
O isolamento social e a perda de interesses que determinam uma maior concentração em temas como a alimentação, a estética e a avaliação constante do corpo;
Algum problema emocional que está por ser esclarecido e/ou tratado;
A dinâmica familiar que entretanto se estrutura de modo disfuncional e obriga a uma abordagem do exterior de modo a que todos continuem a sentir-se unidos mas com mais autonomia.
A Anorexia Nervosa não se define apenas pelo desejo de emagrecer, nem se trata apenas de uma Perturbação Dismórfica Corporal.
“Muitas vezes a Anorexia Nervosa é indevidamente considerada como uma doença do emagrecimento, como se este tivesse corrido mal e pudesse ser considerado a causa da doença, mas a maior parte das pessoas que iniciam dietas de emagrecimento não desenvolve uma Anorexia Nervosa, portanto, o problema de adoecer é bastante mais complexo: para além de se determinar uma dieta restritiva é necessário que se associem um medo doentio de aumentar de peso e uma capacidade para ignorar ou até impedir saciar a fome”, esclareceu a médica.
Estes doentes apresentam de igual modo uma perturbação da autoanálise, uma visão distorcida do seu próprio corpo, o que lhes inflige um sofrimento persistente com repercussões na sua vida social, contudo isto surge enquadrado num quadro muito mais complexo do que aquilo a que habitualmente se designa por Perturbação Dismórfica Corporal.
Para estes doentes, “o maior risco em termos físicos é a desnutrição que condiciona vários problemas de atingimento multiorgânico e que podem originar sintomas como dores de estômago, hipotensão arterial, diminuição da frequência cardíaca, dificuldades de concentração, anemia, ausência de menstruação, fraturas ósseas frequentes, por osteopenia (enfraquecimento dos ossos), queda de cabelo, entre outros”. Em termos emocionais e psicológicos há risco de desenvolverem sintomas depressivos, que podem inclusivamente culminar em suicídio.
Socialmente, existe o risco de um isolamento que pode ser um fator importante de agravamento da doença”, alertou a médica.
Doentes que resistem ao tratamento, com peso muito baixo, durante um longo período de tempo, correm risco de morte. A mortalidade é de cerca de 20% em doentes sem tratamento e de 1-3% em doentes com tratamento.
Para além das doenças que surgem como consequência do estado de desnutrição, estão correlacionadas com a Anorexia Nervosa patologia afetiva (Depressão) e outras Doenças do Comportamento Alimentar (estima-se, por exemplo, que 50% dos doentes com Anorexia Nervosa terão uma Bulimia Nervosa).
Quanto ao papel que a família pode desempenhar na colaboração do tratamento destes pacientes, a Dra. Raquel Pruxa compreende que quando se identifica uma Doença do Comportamento Alimentar num elemento da família, é de esperar que os familiares comecem por negar que se trate de uma doença. “Tipicamente passam por uma fase de incompreensão (“como é que não comes nada e dizes que não tens fome?… Como é que podes dizer que estás gordo?”). O ambiente familiar torna-se bastante tenso e, com a melhor das intenções, os pais procuram forçar o filho a comer. A reação mais imediata e habitual do filho é o aumento da resistência em ingerir qualquer alimento. Este empenho das famílias é sentido como uma invasão e desrespeito pela sua individualidade”, explanou.
Para que se consiga resolver este problema é muito importante que os pais, outros familiares ou amigos, não pressionem o adolescente diretamente sobre a alimentação. Como adverte a psiquiatra, “numa fase da vida em que os doentes têm competências para cuidar da sua própria alimentação, mas não o fazem por doença, a prioridade de todos deve ser que o doente se submeta a tratamento”.
É de igual modo muito importante que o paciente não utilize o estatuto de doente para conseguir benefícios especiais, ou que sua a doença não seja de tal modo dominante em casa que os outros se sintam sem o seu espaço.
A médica sublinha: “Uma doença não surge voluntariamente… não há culpados neste processo”. As famílias são todas únicas e diferentes, assim não há regras ou conselhos que se possam indicar para serem aplicados de modo universal.
Segundo a Dra. Raquel Pruxa, um dos aspetos mais polémicos das Doenças do Comportamento Alimentar é o do impacto dos meios de comunicação social sobre a população em geral e sobre os jovens em particular.
“A sociedade atual vive o culto do corpo, e é frequentemente bombardeada através da televisão, das informações publicitárias de revistas de moda, com mensagens explícitas que preconizam um corpo emagrecido e elegante com o objetivo de alcançar o sucesso, o reconhecimento, o triunfo, tanto a nível profissional como pessoal e emocional. O valor do corpo como aparência e competitividade na sociedade ocidental é fundamental na aprendizagem de comportamentos e atitudes em relação à alimentação.
Embora sejam reconhecidas estas influências como importantes no desencadeamento e na manutenção destas doenças, não há estudos científicos que confirmem que estas influências sejam fatores causais da Anorexia Nervosa”.
Na opinião desta psiquiatra, as campanhas de alerta são sempre úteis: “É importante que as pessoas saibam que a Anorexia Nervosa existe, é uma doença, condiciona sofrimento intenso e mata”.